24 de mar. de 2008

É proibido proibir?, por Miki Breier*

Publicado em Zero Hora, de 23/03/08
Tema para debateHá uma falsa polêmica no ar a partir da aprovação do projeto de lei 107/07, que trata da proibição da comercialização e consumo de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol e ginásios de esportes no Rio Grande do Sul. Muitos são os que afirmam que ao invés de proibir é preciso educar. Faz-se necessário esclarecer que estas duas questões não são antagônicas. Estabelecer limites, definir regras, firmar contratos de convivência podem, sim, fazer parte de um processo educativo.

Quando propusemos o projeto de lei que trata desta polêmica questão, não estávamos iniciando uma cruzada contra todo e qualquer consumo de bebidas alcoólicas em todos os lugares. O projeto é muito claro e específico. Trata da relação que se faz entre o esporte e as substâncias líquidas com algum teor alcoólico. Isto não significa, porém, que o debate não necessite de aprofundamento. São muitos os malefícios causados a partir do consumo inadequado das bebidas que estão em discussão. Além das doenças e da dependência que tomam conta de muitos homens e mulheres, há também as conseqüências sociais, como a violência doméstica e os inúmeros acidentes de trânsito, que poderiam ser evitados a partir de um controle mais rigoroso sobre essas bebidas.

Sabemos que são várias as causas da violência que presenciamos nos estádios. Em hipótese alguma pretendemos reduzir esta complexa questão a uma só origem. Há muita rivalidade entre as torcidas, há uma questão cultural que apaixona as pessoas desde o início da vida, com a opção dos pais por um determinado clube, há também o espírito da disputa, que ultrapassa os limites do razoável em determinadas circunstâncias. Todavia, qualquer pessoa medianamente inteligente precisa concordar que não são poucos os que têm o seu comportamento completamente alterado após a ingestão de determinadas substâncias. Seria casuísmo dizer que conhecemos pessoas violentas que nunca ingeriram uma gota sequer de bebida alcoólica. Ou que sabemos de muitos que bebem com freqüência e que jamais estiveram envolvidos em alguma confusão. Não se trata de discutirmos casos isolados. Nosso interesse é procurar soluções gerais para problemas comuns, que proporcionem um melhor convívio em sociedade.

Há um fato incontestável que precisa ser analisado por aqueles que estão céticos quanto aos resultados desta medida restritiva. Em Zero Hora de quinta-feira, 20 de março, o coronel Marcos Cabral Marinho de Moura, integrante do segundo Batalhão de Choque de São Paulo, garante que as ocorrências policiais praticamente foram zeradas após a proibição naquele Estado, que acontece desde dezembro de 1996. "Hoje, mesmo que o cidadão beba do lado de fora, se acalma no estádio porque ficará 90 minutos sem tomar nada. No final, todos saem de forma tranqüila", garante Moura. A experiência no Mineirão, por determinação do Ministério Público, dá conta de que os registros de violência no estádio e arredores foram reduzidos em mais de 70% no primeiro semestre de 2007, em comparação com mesmo período do ano anterior à proibição. São apenas dois exemplos de que a restrição, o limite, mesmo longe de acabarem com o problema, certamente minimizam as confusões nas praças esportivas.

Os que afirmam com muita veemência que não conseguem conceber uma partida de futebol sem ingerir alguma bebida com álcool talvez necessitem de tratamento e ainda não se deram conta. Um clube afirmar que sem a comercialização dessas bebidas poderá fechar, quem sabe não está mesmo na hora de repensar suas atividades.

Com a mesma convicção que temos de que a opressão e a ditadura são inaceitáveis e não educam, também afirmamos que a falta de regras e limites pode gerar o caos, a barbárie. Vamos levar paz aos estádios e proporcionar o retorno das famílias aos espetáculos esportivos.

*Deputado estadual (PSB)
Líder Partidário AL/RS

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