24 de jun. de 2008

Artigo do Beto Grill

A incrível Índia

Dr. Beto Grill – Pres. PSB Camaquã. Publicado no Jornal Tribuna Centro-Sul de 20/06/08

Minha filha mais velha (menos jovem) viaja pelo mundo. Médica, 25 anos, cheia de vida e curiosidade faz uma aventura que vale a pena. Eu, pai coruja, viajo junto, bem acomodado numa confortável e segura poltrona, à frente do computador. Acompanho pelo Blog os relatos das mais diversas e fascinantes experiências que ela e o namorado estão vivenciando. A cada novo deslocamento, a cada novo país, muitas emoções. Embora os livros nos descrevam, algumas verdades são tão distantes que parecem uma abstração, uma estória. Paisagens características. Culturas diferentes. Costumes estranhos e difíceis de serem entendidos e assimilados por nós ocidentais, colonizados por portugueses cristãos. Gaúchos conservadores e preconceituosos.

Já visitei o Chile, a Ilha de Páscoa, a Nova Zelândia, a Austrália, o Japão, a China, o Nepal e, agora, estou na Índia. Pela Internet é instantâneo e praticamente sem custo financeiro estes roteiros transoceânicos.

Há algum tempo queria socializar com os leitores alguns relatos da Aline. Hoje, finalmente, resolvi fazê-lo. Meu objetivo é apresentar a descrição e o sentimento da minha filha sobre a incrível Índia. Relata ela: “É difícil encontrar alguém que seja indiferente em relação à Índia, geralmente as pessoas que passam por aqui ou amam ou odeiam, mas o consenso é que é uma experiência muito intensa. Chegamos a famosa Varanasi, cidade sagrada para os hinduístas, onde passa o Rio Ganges que é sede de vários rituais. Para tentar entender o que se passa por lá é necessário saber um pouquinho mais do hinduísmo. Resumindo: essa religião é uma das principais da Índia, basicamente acredita em Deus e em reencarnação. Deus é chamado Brahman e tem três principais formas de ser representado. Brahma que é o responsável pela criação e teve seu principal papel na criação do mundo, Vishnu que é o responsável pela preservação e teve diversas reencarnações entre elas Krishna e Buda, e finalmente Shiva (que possui diversos nomes) que é o responsável pela destruição. Destruição não em um mau sentido e sim como um fim para que as coisas recomecem e o universo siga seu ciclo.

Varanasi é a cidade de Shiva, portanto é onde as coisas terminam. A cidade se localiza às margens do Ganges e tem diversos Ghats (escadarias que levam ao rio e onde são realizados os rituais), dois dos quais são destinados a cremação de corpos. Para cá vêm corpos de todo o país para que sejam cremados e jogados no rio sagrado. Se fosse só isso tudo bem, acontece que nem todos os corpos são cremados. Crianças com menos de 12 anos, mulheres grávidas, pessoas com hanseníase, picadas de cobra, sadhus (homens que abdicam dos bens materiais para viver orando) e alguns animais são jogados diretamente no rio. Para lá também escorre todo o esgoto da cidade. É no rio que as vacas sagradas e as pessoas se banham e fazem escolinha de natação.

Nos nossos primeiros dias em Varanasi fizemos um passeio de barco pelo rio ao amanhecer e vimos tudo isso. Olhávamos e quase não falávamos entre nós, concentrados no que nossos olhos captavam. Um pensamento que não saia da cabeça era: isso está realmente acontecendo? Isso é verdade? O ápice foi quando ao olhar pro lado demos de cara com um corpo humano flutuando, a não mais que 20 metros de onde as pessoas estavam se divertindo nadando no rio, indiferentes à aquilo que para nós era quase inacreditável.”

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