4 de jan. de 2008

Artigo: Família Coruja

Por Jorge Alberto Duarte Grill*

Publicado em Zero Hora de 04/01/08

Atento ao noticiário, aflito, tenho acompanhado a saga da família Coruja, domiciliada na areia da praia de Capão da Canoa. Nesta demonstração de eficiência do Estado para com o zelo da vida e da ecologia, se expressa a certeza de que avançamos na direção correta. Estamos, enquanto humanidade, justamente preocupados em manter o equilíbrio da natureza e as conseqüentes condições de perpetuação da espécie humana.

Duvido que a ação enérgica de evitar que um "trivial" e perfeitamente dispensável festejo de entrada de Ano-Novo, que envolvia a frustração da expectativa e do sonho de "apenas" milhares de pessoas, fosse motivada por um preciosismo ou pela possibilidade dos 15 segundos de fama que dali poderiam advir, como de fato ocorreu. Seguramente, esse procedimento foi uma resposta à sociedade, como parte de uma política determinada pelo Estado, de agir prontamente nas questões prioritárias e que digam respeito diretamente a agressões irreversíveis, crimes hediondos contra o meio ambiente e a vida.

Seria essa ação a expressão de uma política estabelecida, que tem agido da mesma forma e com igual presteza, para combater a poluição industrial, os lixões, a morte dos rios, o desmatamento, por exemplo?

Este Estado é o mesmo que promove torturas, que é ineficaz no combate ao tráfico de drogas, à violência no trânsito, à criminalidade, à corrupção. É o mesmo que não consegue oferecer saúde e educação de qualidade.

Mas o que poderia ser um arroubo momentâneo, movido por circunstâncias causadas pela necessidade de dar uma resposta às denúncias ocorridas e pelo diálogo dificultado com a administração municipal, que não tomou medidas preventivas, em tempo hábil, agora se configura, com certeza, numa opção madura e pensada em priorizar esta ação crucial para a manutenção da vida no planeta.

Caso contrário, não seria determinada a vigilância permanente e cuidadosa dessa família ameaçada por terríveis veranistas, assassinos em potencial. É uma demonstração cabal de escolha correta de prioridades. O que poderia ser mais importante, no dia de hoje, para a segurança pública, em geral, e para a ecologia, em particular, do que proteger 24 horas por dia a família Coruja? Parabéns ao Estado. Só falta um detalhe, nos darmos conta de que o homem também é um ser vivo. Seguramente, o morador da favela, o excluído, também está em situação de risco permanente. Está sendo agredido de todas as formas.

Com certeza, logo após a Operação Coruja, em ordem de importância, contando com a mesma relação custo-benefício, vão se desencadear ações semelhantes para proteger as famílias de seres humanos, contemplando os seus empregos, promovendo o saneamento básico ou, pelo menos, igualmente, colocando um policial para fazer a segurança e isolar a área das esquinas, quando fecharem as sinaleiras, para que as crianças possam fazer malabarismo e limpar vidros em segurança.

*Médico - Coordenador da Bancada do PSB
Presidente do PSB Camaquã

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog.
Acessei para ler o artigo do Dr. Beto Grill que foi publicado na Zero Hora de 04/01.
Muito boa a abordagem.
Espero que o partido, em Camaquã, continue neste caminho.
Um abraço Letycia Grill.