29 de mai. de 2008

Barbosa Lessa

Beto Grill - Pres. PSB Camaquã. Artigo publicado no jornal Tribuna Centro-Sul de 30/05/08

Barbosa Lessa escolheu Camaquã para sua morada. Construiu o Sítio da Água Grande para, naquele mágico lugar, lindo e ecológico, viver a plenitude da sua existência, o amadurecimento das suas experiências. Ali recebeu os amigos. Deu vazão aos seus pensamentos conclusivos.
Honrou Camaquã. Divulgou este município. Tornou-se um embaixador desta terra.
Poderia optar por tantos outros rincões deste Estado, mas preferiu a Santa Alta para se aquerenciar.

Com a sua morte, a administração municipal decidiu adquirir o patrimônio da família e, com o compromisso de zelar por sua memória, transformar o seu rancho em um templo perene da cultura gaúcha, de forma a manter infinitamente acesa na lembrança do povo, a chama de sua inteligência e o conjunto da sua obra.

Desafio de tal envergadura requer uma dedicação e um cuidado ímpar. A municipalidade, ao investir R$ 180.000,00, não se apossou apenas do patrimônio físico, das instalações de alvenaria e madeira, da casa e do terreiro, das árvores e da cachoeira, dos livros e troféus, dos móveis e utensílios, mas assumiu um compromisso com a história, com a lenda, com os sentimentos e o imaginário das gaúchas e dos gaúchos que tiveram em Barbosa Lessa um referencial de vida, a personificação de um conjunto de virtudes que se tornaram um exemplo para as próximas gerações.

Infelizmente, o executivo municipal não tinha a real dimensão da sua missão e, muito menos, dos limites da sua capacidade administrativa, do seu potencial de gestão e fiscalização.

Deprimente foi a visita que fiz à Reserva da Água Grande na semana passada. O abandono é total e injustificável. O acesso em mau estado. O mato tomando conta. O galpão se deteriorando, o telhado desabando, colocando em risco os visitantes desavisados. A casa em péssimo estado de conservação. Uma varanda dos fundos apodrecendo, caindo aos pedaços. A biblioteca maltratada. O conjunto harmônico da arquitetura (simples, mas de bom gosto) com a natureza está prejudicado, sem manutenção. Até aqui, porém, resolve-se com dinheiro, reforma-se, limpa-se, arruma-se. É só ter mais cuidado.

E o respeito à memória deste grande cidadão do Rio Grande que está se esvanecendo? Dissolve-se pelo descaso de quem assumiu a guarda deste verdadeiro tesouro, como se estivesse escorrendo pelas águas da cachoeira e diluindo-se arroio abaixo, perdendo-se para sempre.
Diz Antoine Saint-Exupéry, no Pequeno Príncipe: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Camaquã é responsável por Barbosa Lessa, não pode fazer como a raposa. Nós o cativamos, nós o envolvemos. Ele amava este município.

Espero que este alerta sirva para que se pressione a Prefeitura e a Associação que gerencia o projeto, no sentido de que revejam os seus métodos, recuperem os estragos, valorizem os recursos públicos ali investidos e, principalmente, tenham respeito à lembrança deste mito, deste camaquense por opção, por amor a esta terra. Ele comprovou que é possível vir de longe e se enamorar por Camaquã, viver e produzir aqui.

Por fim, é preciso ter respeito com a história e com a cultura do Rio Grande.

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